sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A forte temática de Maria Farrar

Quatro jovens atrizes sobem ao palco e dão um show de interpretação na pele da órfã Maria Farrar.

Diferente do que é de costume, em As infanticidas de Maria Farrar o público experimenta uma sensação não muito peculiar, o aquecimento dos atores normalmente feito por trás das cortinas é realizado no palco no momento em que os espectadores vão entrando no teatro e se acomodando nas cadeiras. Um momento muito bem pensado para descontração, já que a montagem trata-se de um enredo carregado de dor e agonia. No palco, enquanto correm, pulam, esticam, encolhem... Os jovens do curso avançado de teatro do Sesc Santo Amaro emanam toda sua boa energia para a platéia.

A montagem baseada no texto de Bertolt Brecht aborda temas como estupro, violência doméstica e aborto.

Os aproximadamente, 50min de espetáculo tornam-se ainda mais inquietantes, pela opção do diretor e ator Rodrigo Cunha ao escolher que a personagem fosse vivida não só por uma das atrizes, mas sim por todas, o que desperta na platéia um misto de sentimentos, cada interprete dá a personagem uma forma diferente, é um banho de água fria lançado ao público. Até mesmo o longo tempo de funk encaixado no meio da peça é uma cena bastante dura. Aqui não cabem risadas, apenas reflexões sobre a cruel realidade humana de alguns.

“Algumas vezes as mulheres se sujeitam a exposição e a serem tratadas como mulher objeto”, comentou o ator e diretor da peça Rodrigo Cunha, a respeito da cena do funk em um bate-papo pós apresentação.

A peça havia sido encenada apenas uma vez e agora subiu ao palco no 9° festival estudantil de teatro e dança nesta quinta-feira (18).

A experiência foi simplesmente extraordinária. A personagem exigiu muitos laboratórios (exercícios práticos de observação - vídeos da internet, pessoas na vida real, etc.) pra cena do estupro assisti "Irreversível" com Monica Bellucci. Ela interpreta uma cena de estupro com mais de 8min e me ajudou muito a compor minha cena..
Para o espetáculo em geral, e principalmente nas cenas do estupro e do funk, foi necessário se despir do pudor (coisa que não foi fácil) e novamente muitos laboratórios
”, comentou Enny Mara, estudante e aspirante a atriz.

Impossível sair do Teatro Apolo na noite passada sem que os diálogos martelassem na cabeça de quem acabara de prestigiar As infanticidas Maria Farrar, “A vós também, peço que não se indignem, pois toda a criatura precisa da ajuda de todos”.

O festival continua até o dia 28 deste mês e hoje às 19h30 se apresentará o grupo de Criação Coletiva da Companhia Maria Sem-Vergonha de Teatro e Circo com a peça “Ainda há cristais nas flores do sal”. Os ingressos custam R$5 (preço único).

Nenhum comentário:

Postar um comentário